Oração de um
Cão Abandonado
autoria
desconhecida
Versão 1:
Sabe Senhor,
só agora eu entendi porque meu dono me trouxe à praça naquele dia. Não foi para
passear como eu pensei, ele não tinha esse hábito, mas mesmo assim fiquei
contente.
Logo que
chegamos, ele me deu as costas e apressado entrou no carro, sem ao menos me
dizer adeus. Olhei para os lados, sem saber o que fazer. Tentei segui-lo e
quase fui atropelado. O que eu fiz de tão mau? À noite, quando ele chegava, eu
latia, mas é porque havia estranhos no portão e não podia deixá-los entrar sem
a permissão do meu dono. Quem sabe foi minha dona que mandou, talvez eu lhe
desse trabalho. Mas as crianças, elas me adoravam. Como sinto saudades!
Puxavam-me a cauda e eu virava uma fera, mas logo passava. Talvez eles nem
saibam, devem ter dito que eu fugi.
Estou faminto,
só bebo água suja, e todos me desprezam. Estou magro, feio e doente. Sabe
Senhor, neste cantinho que arrumei para passar a noite, sinto muito frio, o
chão está úmido e frio, e quase não tenho pêlos. Creio que vou me encontrar
contigo ai no céu, meu sofrimento vai terminar e mesmo em espírito, sei que vou
ter a Tua permissão para rever as crianças.
Peço-Te
então, não mais por mim, mas pelos meus irmãos abandonados.
Ajuda-os a
encontrar um lar onde possam viver com um pouco de dignidade. Ameniza-lhes a sede
com tua bondade. Elimina o sofrimento de suas chagas, ocasionadas pela
ignorância e a insensibilidade do coração do homem. Tira o medo e a dor dos que
forem sacrificados em nome de estratégias sanitárias, posturas políticas,
científicas, esportivas e outras.
Recebe, ó
Pai, nesta noite gélida, a minha alma, pois não será mais meu sofrimento, mas
dos que ficarem, por eles é que te peço. Obrigado meu Deus, pelos momentos de
felicidade que eu tive!
Versão 2
Deus...
Sei que sou
um ser criado por ti, para ser amado pelos homens mas nasci sem a sorte de
alguns de minha espécie.
Hoje meu
dono levou-me a um passeio de carro. Chegamos em uma praça, ele tirou minha
coleira, me fez descer do carro, e virando-me as costas, foi embora e nem se
despediu.
Tentei
segui-lo mas o carro corria muito e não pude alcançá-lo. Caí exausto no
asfalto. Ainda não entendi. Por que ele me abandonou?
Eu sempre o
recebi abanando o rabo, fazia festa e lambia seus pés. Sempre lati forte, para
defendê-lo e afastar os estranhos da porta.
Eu brincava
com as crianças... Ah! Elas me adoravam. Que saudades. Será que elas ainda se
lembram de mim?
Deus, eu
fico imaginando como seria bom se eu pudesse comer agora. Puxa, estou faminto.
Não tenho
água para beber, e estou tão cansado.
Procuro um
cantinho onde possa me abrigar da chuva, mas muitas vezes sou chutado. As
pessoas não gostam muito de mim aqui nas ruas.
Estou fraco,
não consigo andar muito, mas encontrei enfim um lugar para passar essa noite.
Está muito
frio e o chão está molhado. Já não tenho pêlo para me aquecer, estou doente, e
creio que ainda hoje vou me encontrar contigo. Aí no céu meu sofrimento vai
terminar.
Peço-vos
então, pelos outros, por todos os cãezinhos e animais abandonados nas ruas, nos
parques, nas praças.
Mande-lhes
pessoas que deles tenham compaixão, pois sozinhos, viverão poucos meses, serão
atropelados, sofrerão maltratos dos impiedosos. Proteja-os.
Amenize-lhes
esse frio, com o calor das pessoas abençoadas.
Diminua-lhes
a fome, tal qual a que sinto, com o alimento do amor que me foi negado.
Sacie-lhes a
sede com a água pura dos Seus ensinamentos.
Elimine a
dor das doenças, dos maltratados, estirpando a ignorância do homem.
Tire o
sofrimento dos que estão sendo sacrificados em atos apregoados como religiosos,
científicos, tirando das mãos humanas a sede pelo sangue.
Abrande a
tristeza dos que, como eu, foram abandonados, pois, dentre todos os
sofrimentos, esse foi o maior e mais duro de suportar.
Receba,
DEUS, nesta noite gelada, a minha alma, e minha oração pelos que aqui ficam. É
por eles que vos peço, pois não são humanos, mas são Seus filhos, e são leais e
inocentes, e foram criados por Suas mãos e merecem o Seu abrigo.
Versão 3
Sabe,
senhor, ainda não entendi. Viemos à praça, pensei ser um passeio; estranhei,
ele não tinha esse hábito, mas fui, feliz.
Lá chegando,
ele me deu as costas, entrou no carro, e nem me disse adeus. Olhei para os
lados, nem sabia o que fazer. Ainda tentei segui-lo e quase fui atropelado. Que
teria feito eu de tão mal?
À noite,
quando ele chegava, eu abanava o rabo, feliz, mesmo que ele nunca viesse ao
quintal me ver. Às vezes eu latia, mas tinha estranhos no portão; não poderia
deixa-los entrar, sem avisar o meu dono!
Quem sabe,
foi a minha dona que mandou, devia estar lhe dando trabalho... Mas não as
crianças, elas me adoravam. Como sinto saudades! Puxavam-me a calda, as vezes
eu ficava uma fera, mas logo éramos amigos novamente. Creio que eles nem sabem,
devem Ter dito que fugi.
Estou
faminto, só bebo água suja, meus pêlos caíram quase todos. Nossa, como estou
magro!
Sabe, Pai,
aqui neste canto que arrumei para passar a noite, faz muito frio, o chão está
molhado.
Creio que,
ainda hoje vou me encontrar contigo, ai no céu, meu sofrimento vai terminar. Ao
menos em espírito, terei permissão de ver as crianças.
Peço-vos,
então, não mais por mim, mas por meus irmãozinhos. Mande-lhes a pessoas que
deles tenham compaixão, pois, sozinhos como eu, não viverão mais que alguns
meses na terra do homem.
Amenize-lhes
o frio, igual ao que sinto agora, com o calor dos atos de pessoas abençoadas.
Diminua-lhes
a fome tal qual a que sinto, com o alimento do amor que me foi negado.
Sacie-lhes a sede com a água pura dos seus ensinamentos transmitidos ao homem.
Elimine a
dor das doenças, extirpando a ignorância da Terra. Tire o sofrimento dos que
estão sendo sacrificados em atos apregoados como religiosos, científicos e tudo
mais, tirando das mãos humanas o gosto, pelo sangue. Ampare as cachorrinhas
prenhas que verão suas crias morrerem de fome, frio e pestes, sem nada poder
fazer.
Abrande a
tristeza dos que como eu foram abandonados, pois entre todos os males, o que
mais me doeu foi este.
Receba, Pai,
nesta noite gélida, a minha alma, pois não será o meu sofrimento, mas a dos que
ficarem, é por eles que vos peço.
Só os animais amam incondicionalmente.
Encontrei
Seu Cão
autoria
desconhecida
Hoje
encontrei seu cão. Não, ele não foi adotado por ninguém. Aqui por perto, a maioria
das pessoas já têm vários cães; aqueles que não têm nenhum não querem um cão.
Eu sei que você esperava que ele encontrasse um bom lar quando o deixou aqui,
mas ele não encontrou. Quando o vi pela primeira vez, ele estava bem longe da
casa mais próxima e estava sozinho, com sede, magro e mancava por causa de um
machucado na pata.
Eu queria
tanto ser você naquele momento em que parei na frente dele. Para ver sua cauda
abanando e seus olhos brilhando ao pular nos seus braços, pois ele sabia que
você o encontraria, sabia que você não esqueceria dele. Para ver o perdão em
seus olhos pelo sofrimento e pela dor por que ele havia passado em sua jornada
sem fim à sua procura... Mas eu não era você. E, apesar das minhas tentativas
de convencê-lo a se aproximar, seus olhos viam um estranho. Ele não confiava em
mim. Ele não se aproximava.
Ele virou as
costas e seguiu seu caminho, pois tinha certeza de que esse caminho o levaria a
você. Ele não entende que você não está procurando por ele. Ele só sabe que
você não está lá, sabe apenas que precisa te encontrar. Isso é mais importante
do que comida, água ou o estranho que pode lhe dar essas coisas.
Percebi que
seria inútil tentar persuadi-lo ou segui-lo. Eu nem sei seu nome. Fui para
casa, enchi um balde d'água e uma vasilha de comida e voltei para o lugar onde
o havia encontrado. Não havia nem sinal dele, mas deixei a água e a comida
debaixo da árvore onde ele havia buscado abrigo do sol e um pouco de descanso.
Veja bem, ele não é um cão selvagem. Ao domesticá-lo, você tirou dele o
instinto de sobrevivência nas ruas. Ele só sabe que precisa caminhar o dia
todo. Ele não sabe que o sol e o calor podem custar-lhe a vida. Ele só sabe que
precisa encontrá-lo.
Aguardei na
esperança de que voltasse para buscar abrigo sob a árvore, na esperança de que
a água e a comida que havia trazido fizessem com que confiasse em mim e eu
pudesse levá-lo para casa, cuidar do machucado da pata, dar-lhe um canto fresco
para se deitar e ajudá-lo a entender que agora você não faria mais parte de sua
vida. Ele não voltou aquela manhã e, quando a noite caiu, a água e a comida
permaneciam intocadas. Fiquei preocupada. Você deve saber que poucas pessoas
tentariam ajudar seu cão. Algumas o enxotariam, outras chamariam a carrocinha,
que lhe daria o destino do qual você achou que o estava salvando - depois de
dias de sofrimento sem água ou comida.
Voltei ao
local antes do anoitecer. Não o encontrei. Na manhã seguinte, voltei e vi que a
água e a comida permaneciam intactas. Ah, se você estivesse aqui para chamar
seu nome! Sua voz é tão familiar para ele. Comecei a ir na direção que ele
havia tomado ontem, sem muita esperança de encontrá-lo. Ele estava tão
desesperado para te encontrar, que seria capaz de caminhar muitos quilômetros
em 24 horas.
Algumas
horas mais tarde, a uma boa distância do local onde eu o havia visto pela
primeira vez, finalmente encontrei seu cão. A sede não o atormentava mais. Sua
fome havia desaparecido e suas dores haviam passado. O machucado da pata não o
incomodava mais. Agora seu cão está livre de todo esse sofrimento. Seu cão
morreu.
Ajoelhei-me
ao lado dele e amaldiçoei você por não estar aqui ontem para que eu pudesse ver
o brilho, por um instante sequer, naqueles olhos vazios. Rezei, pedindo que sua
jornada o tenha levado àquele lugar que acho que você esperava que ele
encontrasse. Se você soubesse por quanta coisa ele passou para chegar lá... E
eu sofro, pois sei que, se ele acordasse agora, e se eu fosse você, seus olhos
brilhariam ao reconhecê-lo, ele abanaria sua cauda, perdoando-o por tê-lo
abandonado.




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